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O dia em que avião virou pau
de arara.
O grande sonho do jornalista Phellippe Daou sempre foi a montagem de uma rede
de emissoras de televisão na Amazônia, para "mandar as coisas
da região para consumo do resto do Brasil", rompendo o ciclo do
colonialismo que sempre marcou a relação dos outros com o povo
amazônida. E foi com esse pensamento que Phellippe iniciou a implantação
da Rede Amazônica de Televisão no início dos anos 70.
Nesse período
o jornalista que começava a auto-mutação em empresário
das comunicações, viajou e viajou muito pelo interior da Amazônia,
conhecendo pessoas, lugares, costumes e práticas que até então
nem imaginava, como por exemplo a transformação de avião
em "pau de arara" voador, como contou.
Naquele
tempo a ligação entre os pequenos municípios do interior
da região era muito mais difícil que hoje, evidentemente. Em
razão dessa dificuldade a procura pelo transporte aéreo era
muito grande, e normalmente faltava vaga e sobrava pretendente. E ser obrigado
a ficar por mais um dia e às vezes uma semana em uma cidade do interior
sem ter como sair, era uma penitência que ninguém, queria pagar.
E foi aí que aquele "jeitinho brasileiro" surgiu para ajudar
a recolocar as coisas mais ou menos em seus devidos lugares.
Um dia
o Phellippe percebeu que o avião em que viajava, - quem sabe um velho
"Curtiss Comander", uma baleia voadora ou um Douglas DC-3, avião
que fez história na Amazônia- estava com a lotação
acima do número de poltronas. Phellippe se assustou um pouco porque
havia uma corda esticada no teto do avião, ao longo do corredor entre
os assentos, onde os passageiros em pé, se seguravam para agüentar
os trancos. Como sabia que o trecho era , de vinte minutos aproximadamente,
e tinha certeza de que o comandante não iria colocar em risco a vida
dele próprio, o jornalista estranhou o inusitado da situação
mas deixou a pergunta para depois. E a fez na cidade mais próxima,
quando indagou sobre como é que funcionava o esquema de transportar
passageiros em pé, transformando avião em "pau de arara".
A resposta era simples: havia uma necessidade à ser atendida, assim,
quando o volume de carga no porão do avião ficava abaixo do
limite de segurança, o pessoal das empresas aéreas deixava uma
margem e completava a carga com o peso dos passageiros que precisavam viajar
e aceitavam viajar em pé. "Mas nós só fazemos isso
em trechos curtos, de vinte a trinta minutos. O senhor sabe como é
a nossa região", justificou o funcionário. Phellippe sabia,
e ficou sabendo mais um pouco depois daquele dia.
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