Prisão de 9 estudantes esquenta o movimento "Fora
Sarney"
Foi a truculência da Polícia do Senado que acabou dando
visibilidade pública ao movimento que pretende afastar o senador
José Sarney (PMDB/AP) da presidência e instituir uma
faxina ética naquela Casa do Congresso Nacional. Agora, o movimento
deverá sair com mais força do mundo virtual e das tribunas
do parlamento para ir às ruas, em todo o país.
Uma reunião havia sido realizada na quinta, 13, pela manhã,
na sede nacional da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, em Brasília,
para concluir que o movimento pela moralização do Senado
Federal precisava ganhar as ruas. Além dos deputados federais
Janete Capiberibe (PSB/AP), Chico Alencar (PSOL/RJ) e Ivan Valente
(PSOL/SP), dos senadores Pedro Simon (PMDB/RS), José Nery (PSOL/PA),
Cristovam Buarque (PDT/DF), Arthur Virgílio (PSDB/AM) e João
Capiberibe (PSB/AP) estiveram presentes representantes da própria
OAB, da Associação Brasileira de Imprensa - ABI - e
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, além
de movimentos sociais, estudantis e ONGs.
O senador Arthur Virgílio propôs, inclusive, a renúncia
coletiva dos senadores e nova eleição em 90 dias para
que os eleitores escolham novos senadores. Esta reunião, mesmo
bastante divulgada, praticamente não apareceu nos veículos
de comunicação e foi ignorada pela população.
Mas repercussão aconteceu depois, com a prisão de 9
estudantes, dois deles menores, que faziam uma manifestação
ruidosa próximo ao plenário do Senado Federal, no final
desta quinta. Avisados que não poderiam manifestar-se naquele
lugar, eles estava se retirando quando a Polícia do Senado
começou a arrancar faixas e cartazes e arrastou os estudantes,
presos, para o Departamento de Polícia Legislativa.
A deputada Janete Capiberibe, que estava no Salão Verde da
Câmara, foi informada por um servidor da Casa que os estudantes
tinham sido retirados à força do local e levados uma
sala que serve para interrogatórios, no subsolo da ala onde
fica maioria dos gabinetes dos senadores. Naquele lugar, a construção
de uma cela foi interrompida recentemente.
"Os estudantes foram constrangidos no seu direito de manifestação
política. Eles ficaram aliviados quando disse que ficaria com
eles até que fossem liberados", recorda a deputada. Junto
com a socialista, chegaram os senadores Cristovam Buarque (PDT), José
Nery (PSOL), Eduardo Suplicy (PT) e Valter Pereira (PDMB).
"Disse aos estudantes que iniciei minha militância com
16 anos, quando lutava contra a ditadura militar, e que continuo na
militância até hoje para incentivá-los a continuar
fazendo política", contou a deputada Janete, logo depois
que saiu da sala fechada onde ficou com os estudantes, os senadores
e os policiais legislativos. Para ela, a polícia foi agressiva
durante o interrogatório, mas acredita que a intimidação
poderia ter sido pior se os parlamentares não estivessem lá.
"Houve tortura psicológica dos estudantes", acredita.
"Havia uma determinação expressa do presidente
Sarney para indiciar e intimidar os estudantes com o objetivo de inibir
novos protestos no Senado Federal. Um dos policiais ligou diretamente
para o presidente do Senado na nossa frente", relata a deputada.
Os dois estudantes menores de 18 anos, uma garota e um garoto, foram
liberados com a chegada dos seus pais. Os sete maiores foram indiciados
em inquérito por perturbação da ordem, mas não
se inibiram. Ao serem liberados, disseram que serão feitas
tantas manifestações quantas forem necessárias
para afastar o senador Sarney e os maus políticos do Senado
Federal. Na mesma hora, convocaram uma nova manifestação,
para o sábado, 15, às 14 horas, em frente ao Congresso
Nacional, seguida de uma carreata até a residência do
senador José Sarney, no Lago Sul.
Conforme decisão das entidades e políticos que participaram
no encontro na sede nacional da OAB, deverão acontecer, ainda
sem datas definidas, uma vigília no plenário do Senado
Federal, um plebiscito entre os senadores para decidir pela permanência
ou não do senador Sarney na presidência da Casa e uma
manifestação na rodoviária de Brasília,
além da articulação política para o desarquivamento
das denúncias contra José Sarney. As entidades também
resolveram que poderão promover um ato público no Amapá,
estado por onde o senador Sarney foi eleito.
As entidades consideraram bastante importante as presenças
de João Capiberibe e da deputada Janete Capiberibe, calorosamente
recebidos na reunião e apontados como símbolos da resistência
ao coronelismo do senador Sarney no Amapá e no Brasil. A cassação
do senador João Alberto Capiberibe (PSB) foi lembrada várias
vezes, como pelo senador José Nery (PSOL): "Sarney, e
sua gangue, tramou para retirar-lhe (do senador Capiberibe) o mandato
legitimamente conquistado". (Sizan Luiz)