Epidemia pela febre de oropouche reaparece na Amazônia
Mais de 650 casos de infecção pela febre de oropouche
foram confirmados pela Secretaria de Saúde do Amapá
no município de Mazagão, localizado no sul do estado.
Os casos chamam a atenção não só pelo
número elevado de pacientes da doença, mas também
porque há pelo menos cinco anos não havia epidemia de
febre de oropouche na Amazônia.
De acordo com o secretário de saúde de Mazagão,
José Monteiro, para impedir a saída da doença
do município, a prefeitura já iniciou uma ação
de limpeza em áreas com foco do mosquito transmissor, incluindo
a retirada de animais dessas áreas, e aplicação
do fumacê, necessário para conter a reprodução
do mosquito. A cidade tem quase 14 mil habitantes, segundo levantamento
feito em 2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Os primeiros casos da febre de oropouche no estado surgiram
em março deste ano, mas se intensificaram nos últimos
três meses.
Em entrevista à Agência Brasil, a infectologia Maria
Paula Mourão, que também desenvolve pesquisas sobre
a doença na Fundação de Medicina Tropical do
Amazonas, confirmou que o caso de Mazagão pode ser considerado
uma epidemia. Para ela, os estados da Amazônia precisam se preparar
para identificar ocorrências da febre de oropouche. A especialista
explicou que a doença só pode ser diagnosticada por
meio de exames laboratoriais. Em toda a Amazônia, somente o
Instituto Evandro Chagas, no Pará, e a Fundação
de Medicina Tropical, no Amazonas, estão preparados para identificar
a doença. Manaus também teve registro da doença
nos dois últimos anos.
“Muitas vezes, como a doença não é grave,
a rede de saúde dos municípios não tem estrutura
para fazer o diagnóstico da febre de oropouche e a classifica
como uma virose qualquer. É preciso prepará-los para
dar o diagnóstico correto”, disse.
Febre aguda, dores de cabeça intensas, manchas na pele, dores
musculares e nas articulações são sintomas que
podem aparecer num paciente da doença. Não há
coriza nem tosse e a doença é frequentemente confundida
com dengue e malária pela semelhança de sintomas. A
duração da febre de oropouche no organismo humano pode
chegar a 7 dias.
A febre de oropouche é uma doença tropical. O aquecimento
global do planeta e os desmatamentos podem incentivar a criação
de ambientes favoráveis ao mosquito. Epidemias foram registradas
em Manaus, na década de 80 e em Rondônia há mais
de cinco anos. A transmissão se dá por um mosquito chamado
maruim. O inseto também é conhecido como mosquito-pólvora
e suas larvas podem viver em água doce ou salgada. O maruim
é encontrado em matas úmidas e brejos. A reprodução
acontece em lugares alagados e onde existe matéria orgânica
em decomposição. O nome do inseto se deve ao tamanho
pequeno e cor que lembra um grão de pólvora.
Reportagem de Amanda Mota, da Agência Brasil, publicada
pelo EcoDebate, 10/08/2020