O JULGAMENTO DE ROBERTO E O FUTURO
Por Rupsilva
Nesta quarta-feira, atendendo o processo instruído pela coligação
Frente pela Mudança, o Tribunal Regional Eleitoral, por decisão
monocrática da juíza eleitoral Sueli Pini, com base
nas provas substanciosas apresentadas, decidiu-se pela cassação
dos mandatos de Roberto Góes e sua vice, Helena Guerra.
Até aí nenhuma novidade não fosse por três
episódios significativos que vem se tornando uma constante
na vida do Amapá. O primeiro a confirmação dos
ilícitos eleitorais arrogados pela coligação
PSB/PSOL/PMN, prática reiterada que vem desacreditando o resultado
das nossas eleições e derruba de vez a tese governista
que tudo não passa de “choro de perdedor”.
Não custa lembrar, em reforço a tese, que trata-se
da quarta cassação que fere o atual prefeito, cuja permanência
no cargo é sustentada por liminares concedidas por juízes
do próprio tribunal e que apesar da robustez das provas apresentadas
se mantem incólume.
Uma liminar que se preze, ao ser concedida, por exemplo, não
pode homenagear o desempenho do Prefeito nem tão pouco a descontinuidade
administrativa. Argumentos que não são do escopo da
lei eleitoral para quem um infrator não passa de um infrator
e assim deve ser visto e julgado por qualquer magistrado.
A avaliação do mérito do seu circunstancial
trabalho é pessoal, da consciência e intimidade do julgador
que a lei não contempla como algo que possa atenuar qualquer
deslize eleitoral. Nem tão pouco deve apoiar-se na descontinuidade
administrativa, como disse, para justificar a impunidade de quem se
elegeu fraudando a lei eleitoral.
Por isso a Constituição pátria prevê,
para salvaguardar decisão tão grave, uma linha sucessória
nos casos de vacância do cargo que inclui o vice-prefeito, o
presidente da Câmara Municipal e até mesmo a autoridade
judicial.
O segundo, tão grave quanto os outros, se refere a sonegação
da informação, por parte da mídia, impedindo
que a sociedade tenha conhecimento das decisões judiciais e
possa fazer seu juízo e tirar suas próprias conclusões.
Gravíssimo por tratar-se de algo urdido e premeditado, por
isso uma manobra criminosa. Caso o debate fosse aberto se saberia
os detalhes das denúncias, a natureza dos crimes e baseado
em que se decidiu a autoridade judicial.
O terceiro fato se refere a banalização das decisões
e do papel do TRE, instituição de suma importância
na construção do quadro dirigente e legislador do país,
que ocorre quando não se repercute seu trabalho como fazem,
de propósito, rádios, televisão e jornais locais.
Que parece não causar nenhum incômodo a instituição.
Essas três questões se entrelaçam, são
frutos da mesma estratégia e da mesma árvore genealógica.
E tem por objetivo manter o controle social de uma população
ignorante e desinformada, tomar de assalto a máquina do governo
e por consequência da riqueza do Estado, um bem comum e por
ser comum, de todos nós.
Próprio da cartilha do PMDB como denunciou Jarbas Vasconcelos
e confirmou a revista Veja na mais completa radiografia do partido
de Renan, Jader, Quércia, Themer e Sarney, esse o avalista,
mentor e protetor desse governo, um entrave ao desenvolvimento do
Amapá, prática que já teria contaminado inclusive
o PT de Lula.
Governo que é um coquetel de personagens que inclui funcionários
subalternos, incompetentes e corruptos; políticos patrimonialistas
que ignoram o papel do Estado e empresários de todo tamanho,
uns fracassados e outros que cresceram e só sobrevivem a custa
do Estado.
Todas essas ações são pertinentes e graves,
mas a banalização dos atos do TRE reveste-se o mais
danoso de todos e de insondáveis malefícios.
Minimizar suas decisões, quando contrariam interesses do grupo
dominante é um atentado à Democracia, como têm
obrigação de saber profissionais da comunicação,
muitos com passagem pelo curso de jornalismo. Reclamação
que cabe, em particular, a TV Amapá, afiliada da Globo, que
tem um dos jornais mais acreditados do Brasil, mas que aqui faz o
jogo do poder.
Eleição é, possivelmente, o instrumento mais
importante e legitimador dos regimes democráticos. Por isso
torna-se condenável, nesse caso, que nenhum órgão
tenha dado a devida repercussão aos feitos recentes do TRE.
Dos demais órgãos da nossa mídia, na verdade,
nada se pode esperar por serem força auxiliar do governo e
pertencerem a grupos políticos atrelados ao aparelho de Estado.
É fácil de entender, embora inaceitável, por
se tratar de concessão pública.
Tudo isso tem a ver com o fato de que nessa semana, dia 12 mais precisamente,
teremos o julgamento do mérito, pelo Pleno do TRE, de três
liminares que sustentam a permanência do Prefeito no cargo.
Fato importante e que diz respeito a vida da cidade e seus moradores,
daí sua relevância e importância.
Seria aconselhável que a mídia responsável desse
a cobertura que o evento faz jus para que a sociedade forme opinião,
como disse lá atrás. Para que tome conhecimento e possa
tomar partido.
Não adianta esconder porque há uma espectativa em torno
do resultado desse julgamento. Os processos que acusam Roberto são
graves demais. Sua vitória, ainda contestada, foi uma das mais
sujas da história política do Amapá, pelos instrumentos
utilizados para consegui-la.
São decisões delicadas por se basearem em provas (parte
dos autos), que tiveram juízes do próprio TRE como testemunhas.
O não acatamento dos argumentos que pugnam pela revogação
das medidas (liminares), abalará de vez a crença na
imparcialidade do TRE e falecerá qualquer esperança
entre os que acreditam em mudança de posição
do órgão.
O que o cidadão espera do TRE é o respeito ao devido
processo legal e ao preceito da lei e que leve em conta os interesses
maiores da sociedade que não pode mais ficar subjugada ao jogo
solerte da compra de votos e outras práticas criminosas, pois
uma decisão adversa abalará a crença da infalibilidade
e impunidade desses atos.
O caso Roberto Góes é emblemático e pode colocar
luz sobre as eleições de 2010 e de como deverá
se comportar o TRE, que a cada pleito - ao sabor das suas mudanças
internas, promete disputa limpa, imparcial e fiscalizada com rigor,
que acaba não acontecendo, como estamos cansados de saber.
Todos nós queremos que se estabeleça o primado da isenção,
como exige a lei. É necessário que se dê a todos
que disputarem eleições, garantias jurídicas
que restabeleça a igualdade de condições diante
das possibilidades da vitória e da derrota.
Nada demais. Nada que não faça parte do código
e princípios que formam o arcabouço da lei eleitoral.
A decisão que emergir do TRE, no caso Roberto Góes,
nos permitirá saber se esse tipo de preocupação
é dominante naquela Corte e o que nos reserva 2010.