REFORMA POLÍTICA: VOTO OBRIGATÓRIO + LISTA FECHADA
= DEMOCRACIA DE MENTIRINHA
Gravatai Merengue
Nossa democracia já é conceitualmente complexa diante
da obrigatoriedade do voto. Agora, como se já estivéssemos
num grau nórdico de maturidade política e nosso Congresso
fosse dotado de indivíduos absurdamente íntegros, estamos
em via de aprovação de uma reforma que prevê a
adoção da "Lista Fechada".
Vocês sabem o que é isso?
Vamos lá: os partidos, por meio de Convenção
ou mecanismo interno correlato, formarão listagens com seus
integrantes concorrentes nos pleitos eleitorais. Mas o diferencial
é que tais nomes estarão em "ordem classificatória";
ou seja, ninguém mais votará numa pessoa, mas sim no
partido, e cada legenda indicará um número X de parlamentares,
de acordo com seu quociente, obedecendo a ordem da lista definida
em Convenção.
Em suma: voto indireto.
Caso essa idéia vá mesmo adiante - e parece que é
apoiada por grande parte das legendas, por motivos pra lá de
óbvios -, os caciques e líderes partidários terão
vaga garantida no Congresso. Como no Brasil política é
algo hereditário, seus filhos e netos também o terão.
E assim por diante.
Mais do que uma "partidocracia" ou "caciquismo",
viveremos numa espécie de "monarquia do voto indireto",
ou sei lá como chamar esse tipo de bizarrice. Talvez um sub-sindicalismo
risível, sem que tenhamos ao menos o direito de não
comparecer às urnas como forma de não compactuar com
um jogo no qual todas as cartas já estão marcadas.
Porque, convenhamos, isso não "fortalece" partido
algum. Essa Reforma, se for mesmo aprovada, não passará
por debate ou consulta, será praticamente imposta e, ainda
por cima, em meio a uma crise institucional severa por que passa tanto
Câmara quanto Senado - isso sem falar nos escândalos recentes
que atingem praticamente todas as principais legendas.
Acreditem, o menor dos problemas será a discussão sobre
financiamento público ou privado das campanhas. E o próprio
autor da medida, Ibsen Pinheiro, reconhece o surgimento do "caciquismo"
e ainda diz que "cada sistema tem seus inconvenientes".
Pois é. Esse novo sistema tem o "inconveniente" de
suprimir a democracia, trocando-a pelo voto indireto. Fora esse mero
detalhe, é bem razoável.
Depois de tomar o poder, a turma das Diretas resolveu aderir, para
benefício próprio, ao movimento "Indiretas, Já!".