Feijão brasileiro “contaminado” é farsa
por Conceição Lemes
No último mês, este alerta, acompanhado de várias
fotos, foi disseminado freneticamente na internet, via e-mails. Só
esta repórter recebeu três vezes.
Perigo no prato dos Brasileiros!!!!
MATERIA DIVULGADA EM VÁRIOS SITES DE AGRICULTURA, PORÉM
FOI MISTERIOSAMENTE TIRADA DO AR. LEIA, POIS É MUITO PERIGOSO.
Confirmado na última semana o 83º caso de Chagas contraído
a partir do Feijão servido nas refeições dos
brasileiros. Pelo que foi divulgado pela mídia especializada
na última quarta-feira toda a colheita entregue por uma cooperativa
de plantadores de feijão (COOVENF) está contaminada
com o protozoário da doença de Chagas (tripanosoma cruzi),
oriunda do Barbeiro.
A doença se alastrou com rapidez, pois a cooperativa atende
a mais de 18 empresas que embalam o Feijão e destribuiem para
todo Norte, Centro Oeste e Sudeste do Brasil que é mais alarmante
que foi constatado que os lotes não foram tirados de circulação,
fazendo com que o número de infectados aumente a cada semana.
É Sabido que já se contrairam CHAGAS a partir dos tipos
carioquinha, jalo e preto, porém, especialistas da UNIUPS-GO
- Universidade Ubirajara Pereira de Souza de Goiás estão
analisando se os tipos mulatinho, roxinho e branco também estão
contaminados, uma vez que todos são originários da mesma
Cooperativa.
A Maioria dos doentes estão no sul do estado de Goiás,
São Paulo e Minas, porém sabe-se que há casos
no Acre, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Infectologistas estão recomendando que se troque temporariamente
o feijão por Canjica ou Grão de Bico (imunes ao Chagas),
porém, se for indispensável o uso do grão do
feijão nas refeições, aconselham que use 4 gotas
de dendê ou 2 de vinagre de maçã no feijão
que fica de molho pós lavagem.
COZIMENTO MATA O PROTOZOÁRIO
“Esse alerta é falso, embuste puro”, adverte o
infectologista Artur Timerman, do Ambulatório de Doenças
Infecciosas do Hospital Heliópolis, em São Paulo. “Não
tem sentido”, reforça Maurício Bento, professor
de Entomologia da Escola Superior de Agricultura e Agronomia Luiz
de Queiroz - a Esalq, da USP, em Piracicaba. “Mesmo que
o barbeiro defecasse na sacaria de feijão, o Trypanossoma cruzi
morreria no cozimento.”
Entomologia é a área do conhecimento que estuda todos
os aspectos da vida dos insetos, inclusive a do barbeiro, conhecido
também como cascudo, bicho de parede, bicho de frade e chupão,
dependendo da região brasileira.
A doença é transmitida principalmente por esse inseto.
No final da década de 1970, estimavam-se 100 mil casos novos
por ano no País. Mas está diminuindo devido ao maior
controle de qualidade nas transfusões de sangue, combate ao
barbeiro e à melhoria das condições das moradias.
Em 2008, segundo o Ministério da Saúde, ocorreram 114
casos agudos. Há, porém, cerca de 1,6 milhão
de portadores da doença crônica; nas Américas
- dos Estados Unidos à Argentina -- são aproximadamente
12 milhões de portadores crônicos.
“O barbeiro é o vetor, o veículo que carrega
o parasita”, informa Timerman. “Quem causa mesmo a doença
é o protozoário Trypanossona cruzi, que vive
no intestino do barbeiro e é eliminado nas suas fezes.”
“O barbeiro se alimenta de sangue humano e de outros animais,
como cães, gatos, aves, gambás”, acrescenta Bento.
“É um inseto sugador de sangue em todas as suas fases
de vida.”
E, aí, está o perigo. O barbeiro tem o hábito
de defecar enquanto se alimenta. Assim, ao picar alguém para
sugar o sangue, evacua no ferimento e provoca coceira. A reação
imediata da pessoa é coçar. O protozoário, então,
penetra no local, indo para a corrente sangüínea. Daí
para alguns órgãos preferenciais, entre os quais o coração.
O mesmo pode acontecer quando a pessoa flagra o inseto picando e dá
tapa nele. Ao ser esmagado, os intestinos e as fezes se espalham na
pele. Caso seja uma "barbeira"- só a fêmea
transmite --, o protozoário, através da lesão
provocada pela picada, pode atingir a circulação e causar
a doença de Chagas.
“A doença aguda de Chagas provoca febre prolongada
(mais de sete dias), dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço
no rosto e pernas. São comuns dor de estômago, vômitos
e diarréia”, esclarece Timerman. “Devido à
inflamação no coração, pode ocorrer falta
de ar intensa, tosse e acúmulo de água no coração
e pulmão. Cronicamente, pode comprometer irremediavelmente
o coração. Doença de Chagas é uma das
principais causas de transplante cardíaco no Brasil.”
“Mas se o barbeiro defecar nos sacos de feijão no armazém,
pode transmitir o protozoário, não pode?”, alguém
talvez insista.
A única possibilidade de contaminação é
se a pessoa comesse os grãos crus com as fezes. Só que
isso é praticamente impossível. Primeiro, porque o prato
predileto do barbeiro não é o feijão mas o sangue.
Segundo, feijão cru não se come. O feijão é
consumido cozido, e o cozimento mata o protozoário. Portanto,
na prática, não há risco.
“E os casos de doença de Chagas provocados pelo consumo
de açaí e de caldo de cana?”
Em ambos o problema ocorreu durante a manipulação.
“No meio da cana-de-açúcar e do açaí,
existiam barbeiros adultos, que foram triturados junto com esses alimentos,
contaminando-os pelo protozoário”, explica Maurício
Bento. “E como são consumidos in natura, portanto, crus,
o Trypanossoma cruzi não foi eliminado, causando a doença
aguda de Chagas.”
OUTRAS MENTIRAS DO FALSO ALARME
1) A grafia do protozoário que causa a doença de Chagas
está errada. É Trypanossoma com y e não
com i, como está no falso alerta.
2) A foto que acompanha a mensagem não é de barbeiro,
mas de outro inseto, possivelmente o Zabrotes subfasciatus,
popularmente conhecido como caruncho. Em hipótese alguma causaria
doença de Chagas. O caruncho é um inseto que se alimenta
exclusivamente de feijão. É uma praga do feijão
armazenado. Se for triturado e consumido, não causa nenhum
dano à saúde.
3) A foto do feijão esburacado. Os buraquinhos resultam da
ação do caruncho e não do barbeiro, como leva
a crer a falsa mensagem. O barbeiro, frisamos, adora sangue; o caruncho,
feijão.
4) A UNIUPS-GO, universidade que teria detectado a contaminação,
não existe.
5) A cooperativa COOVENF também não existe. Pesquisa
no Google remete sempre à mensagem falsa.
“Quando se trata de informação científica
envolvendo saúde, é preciso muita cautela”, ensina
o professor Maurício Bento. É importante saber se o
veículo tem credibilidade. É preciso estar atento às
fontes citadas. No caso do feijão, bastaria pesquisar o nome
da universidade, para descobrir a fraude. Em caso de dúvida,
consulte alguém da área ou alguma instituição
para saber da veracidade da informação. E só
passe adiante o que realmente for veraz. É o único jeito
de irmos nos livrando dos alertas mentirosos disseminados pela internet,
que são verdadeiras pragas.
Este é o barbeiro.
Este é o caruncho no feijão.
Este é o feijão carunchado.