Filme de missionários incita ódio racial contra
índios brasileiros - 19/03/2020
Altino Machado
A ONG Survival International, sediada em Londres, divulgou uma nota
em que acusa os autores do controverso filme "Hakani", que
já foi visto por mais de 350 mil pessoas no Youtube, de incitar
o ódio racial contra os índios brasileiros. A organização
quer chamar a atenção da sociedade para o 21 de março,
para o Dia Internacional da Eliminação da Discriminação
Racial, instituído pela ONU.
O filme trata como sendo verídica a história de uma
criança índia brasileira enterrada viva pelo seu povo.
A Survival afirma que o filme é uma encenação.
Segundo a organização, a terra cobrindo o rosto da criança
é na verdade bolo de chocolate e as alegações,
divulgadas pelo filme, de infanticídio entre os índios
brasileiros são falsas.
- As pessoas estão sendo ensinadas a odiar os índios,
até mesmo a desejar que morram. Os comentários no site
do YouTube dizem coisas como: ‘Então vamos aniquilar
essas tribos. Elas fedem." E ‘Esses amazônicos filhos
da p*** que enterram criancinhas, matem todos’ - - afirma o
diretor da Survival, Stephen Corry.
Segundo Corry, o filme se baseia no que eles alegam acontecer rotineiramente
em comunidades indígenas, mas não é assim.
- O infanticídio é raro na Amazônia. Quando acontece,
a decisão cabe à mãe e não é tomada
com leveza. A decisão é tomada em privado e secretamente
e é muitas vezes vista com vergonha, sempre como algo trágico
- assinala.
Segundo a Survival, "Hakani" foi realizado por David Cunningham,
filho do fundador de uma organização missionária
fundamentalista americana, chamada "Jovens Com Uma Missão",
que tem um ramo no Brasil conhecido como Jocum.
Corry disse que os missionários tentam escamotear seu envolvimento
no filme. Ele considera o filme como parte da campanha dos missionários
para colocar pressão sobre o governo brasileiro para que este
aprove um projeto de lei controverso, conhecido como a "Lei Muwaji".
- Isso forçaria os cidadãos brasileiros a participar
às autoridades qualquer coisa que achassem ser uma "prática
tradicional danosa" - uma lei que fomentaria caça-às-bruxas,
faria o Brasil retroceder séculos e poderia provocar desajustes
sociais catastróficos - avalia o diretor.