O ARTIGO QUE INCOMODOU SARNEY
Artigo de Aderson Lago, publicado em maio de 2007, levou José
Sarney, quase um ano depois, a ordenar ao filho Fernando que atacasse
Aderson na Mirante
O uso político do Sistema Mirante foi comprovado num ‘grampo’
da PF, que também flagrou José Sarney citando a Abin
como informante da família
POR OSWALDO VIVIANI
No artigo de Aderson Lago que incomodou o presidente do Senado José
Sarney (PMDB-AP) - a tal ponto de, quase um ano depois, ele
mandar seu filho Fernando divulgar na TV do clã, a Mirante,
denúncias contra Lago -, o atual chefe da Casa Civil
do governo estadual afirmou que o “velho oligarca”, por
meio de sua mídia, mostrou um “incontido desejo”
e “indisfarçável torcida” por sua morte.
No artigo, Aderson Lago se mostrou indignado com a divulgação,
por veículos de comunicação da família
Sarney, de doenças que nunca teve (hipertensão e úlcera)
e da informação mentirosa de que “chegaram os
médicos, inclusive, a apontar doenças mais graves”.
“Nunca invadi a vida pessoal do senador José Sarney
e de sua família.(...) Em alguns momentos da minha vida pública,
figuras exponenciais da ‘oligarquia’ atravessaram momentos
de sofrimento e dor, submetidas a graves enfermidades, das quais,
graças ao nosso bom Deus, conseguiram sobreviver e se curar.
Jamais me aproveitei desses momentos de fragilidade para tripudiar,
criticar, comentar ou emitir opiniões acerca do sofrimento
e da dor de qualquer um deles. Sempre entendi que a doença
só deve dizer respeito ao doente e a sua família. Lamentavelmente,
não é este o entendimento do ‘velho oligarca’”,
escreveu Aderson Lago. Veja a íntegra De seu artigo:
“Desde 1990, quando disputei minha primeira eleição,
combato o senador José Sarney e seus aliados. Sempre fui um
adversário deste grupo. Agi sempre de forma incansável,
e, às vezes, fui até radical. Nunca dei tréguas
a este grupo oligárquico que se formou no Maranhão e
que considero o que há de pior na política brasileira.
Ao longo de dezesseis anos, honrando os mandatos que me foram dados
pelo povo do meu Estado, fiscalizei os sucessivos governos, fazendo
algumas das denúncias (todas fundamentadas e documentadas)
que mais incomodaram aquele que desejou ser o dono do Maranhão.
Trouxe a público casos como Salangô, Estrada-Fantasma
Paulo Ramos - Arame, Usimar-Lunus, Convento das Mercês,
Pólo de Confecções de Rosário, Caso Reis
Pacheco, venda do BEM, Teleensino, etc.
Muitas vezes me vi politicamente quase isolado neste combate, ao
lado de poucos companheiros, que, como eu, não aceitavam a
terrível dominação oligárquica ocorrida
no Maranhão. As batalhas foram duras, mas, em 2006, uma conjugação
de forças da oposição, a maior de todas até
então constituída, quebrou o tabu. Derrotamos o filho
e a neta da ditadura. Sarney foi finalmente derrotado.
Pessoalmente, abri mão de uma reeleição de deputado
para disputar o mandato de governador. Sabia que as chances de me
eleger eram quase nulas, mas tinha certeza de que, como candidato
majoritário, poderia dar uma importante contribuição
para a causa da libertação do nosso Estado. Entrei para
a história junto com Jackson, Vidigal, José Reinaldo
e todos aqueles que lutaram e ajudaram a derrotar uma candidatura
que tinha a seu favor o Governo Federal, um império de comunicação
e a cultura do medo.
Vejo, hoje, que os derrotados de 2006 não assimilaram o resultado
das urnas. Não aceitam e não admitem que tenha prevalecido
a vontade popular. Não se conformam com o fato de que Jackson
Lago seja o governador de todos os maranhenses. Transcorridos poucos
meses, eles apelam e ultrapassam todos os limites.
Diante dos excessos cometidos por nossos adversários, quero
registrar aqui que jamais extrapolei os limites impostos pela ética
no que diz respeito, principalmente, à vida pessoal e familiar
de quaisquer adversários. Nunca invadi a vida pessoal do senador
José Sarney e de sua família. Nunca, mesmo quando as
travessuras de seus filhos viraram casos de polícia. Vida pessoal
e família são instituições sagradas, pelo
menos para mim que prezo e respeito esses valores.
A exigência deve ser maior ainda quando se trata de problemas
de saúde. Em alguns momentos da minha vida pública,
figuras exponenciais da ‘oligarquia’ atravessaram momentos
de sofrimento e dor, submetidas a graves enfermidades, das quais,
graças ao nosso bom Deus, conseguiram sobreviver e se curar.
Jamais me aproveitei desses momentos de fragilidade para tripudiar,
criticar, comentar ou emitir opiniões acerca do sofrimento
e da dor de qualquer um deles. Sempre entendi que a doença
só deve dizer respeito ao doente e a sua família.
Lamentavelmente, não é este o entendimento do ‘velho
oligarca’. Através do seu jornal e dos seus blogs, utilizando
sempre a periferia rastejante e bajuladora que gravita em torno de
si, mais uma vez ele extrapola os limites da disputa política,
mostrando toda falta de escrúpulo que o acompanhou ao longo
de seus quase sessenta anos de politicalha. Em total desrespeito aos
meus familiares, mandou publicar notas e divulgar informações,
acrescentando aos meus problemas de saúde doenças que
nunca tive (hipertensão e úlcera) e procedimentos médicos
a que não fui submetido (transfusão de sangue). Além
disso, mandou registrar, em um de seus blogs, o seguinte comentário:
‘Chegaram (os médicos), inclusive, a apontar doenças
mais graves’. É incontido o desejo e indisfarçável
a torcida pela minha morte. Como diz o samba, ‘a maldade, nesta
gente, é uma arte’.
Registro aqui as profundas diferenças entre o meu estilo de
fazer política e o estilo do meu adversário. Diferente
dele, eu combato de frente. Não utilizo paus-mandados nem me
escondo atrás de quem quer que seja. Sou um adversário
leal, e a covardia não fará parte da minha biografia.
Tenho, sim, problemas de saúde, mas minha doença é
bem diferente daquela que é carregada por este que me ataca
de forma covarde e pusilânime. Sou safenado e diabético,
e uma gastrite hemorrágica, de origem medicamentosa (já
cicatrizada), causou-me uma anemia da qual já estou em franca
recuperação. Já o meu adversário sofre
de uma doença moral, agravada por uma presunção
aguda e peçonhenta, somada a uma irreversível inescrupulosidade.
A minha doença me obriga a tomar remédios que provocam
efeitos colaterais, como a gastrite que tive há poucos dias.
A dele se desdobra em várias outras, como a arrogância
que não lhe permite perder eleição (fazendo dele
um notório fraudador) e o estilo frouxo e covarde de enfrentar
os seus adversários.
Quero agradecer a Deus, e aos médicos que me assistiram aqui
e em São Paulo, pela minha rápida recuperação.
Agradeço, também, a solidariedade que tenho recebido
e aproveito a oportunidade para avisar que estou de volta. Não
vou morrer, como gostariam Sarney & Cia. Tive a alegria de viver
o bastante para ajudar a derrotá-los nas urnas, e tenho certeza
de que Deus me dará saúde suficiente para que eu possa
ajudar o Governo Popular e Democrático de Jackson Lago a resgatar
o serviço público em nosso Estado e a varrer do mapa
político do Brasil esta famigerada ‘oligarquia’
que adoeceu o Maranhão por tanto tempo.”
EM 17 DE ABRIL DE 2008, NUMA CONVERSA ‘GRAMPEADA’
PELA PF, ENTRE JOSÉ SARNEY E FERNANDO SARNEY, O ‘CHEFÃO’
DO CLÃ ORDENA AO FILHO QUE ATAQUE ADERSON LAGO NA TV MIRANTE
E TAMBÉM CITA A ABIN COMO INFORMANTE DA FAMÍLIA:
JOSÉ SARNEY - Meu filho, esse negócio que eu
li hoje do filho do Aderson Lago e do Aderson Lago, esse sujeito foi
muito cruel com a gente, com todos nós, com Roseana, comigo,
escreveu aquele artigo outro dia me insultando de uma maneira brutal,
vamos botar isso na televisão..
FERNANDO SARNEY - Sim, calma, não sei por que essa pressa,
desde o começo conseguimos o documento, tamos fazendo construtivamente,
tamos construindo a coisa legal, da forma como deve ser feita.
JS - Eu hoje, eu vi no Walter Rodrigues [blog do jornalista
Walter Rodrigues], ele...
FS - Viu, não. Foi vazado propositadamente pra isso
mesmo...
JS - Põe na televisão, manda botar o destino
do dinheiro recebido, foi parar em tal, tal, tal...
FS - Tá bom, o cara da Globo já está aqui,
desde segunda-feira, e estamos trabalhando isso, tá?
JS - Falou isso com ele?
FS - Falei, falei com ele, mostrei tudo, mostrei tudo, vai
dar certo. Mas calma, calma, não precisa pressa, não
precisa pressão.
JS - Não é pressão, não, rapaz.
Eu tô...
FS - É que esse é um assunto que eu peguei desde
o começo, eu consegui, passei pro Sérgio, tamos soltando
no jornal pouco a pouco, a vazada foi proposital, é isso mesmo,
calma...
JS - Pois é. Eu vi hoje o resultado foi no blog do Walter
Rodrigues.
FS - Sim, meu pai, foi proposital, pra dividir a responsabilidade,
essa coisa toda...
JS - Tá bom.
FS - Tá certo? O foco é fazer isso que você
tá falando aí...
JS - Tá bom.
FS - Olha aqui... E aquele meu negócio, alguma novidade?
JS - Não. Até agora ainda não me deram
nada.
FS - Muito bem, mas eu aqui já tive notícias
do Banco da Amazônia, tá?
JS - É, né?
FS - É.
JS - Da Abin?
FS - Também.
JS - Tá bom.
FS - Tá? Formal, na semana passada chegou. É
sinal que tão mexendo... Mas o daqui é sem origem...
JS - (???)
FS - Não, daqui é o juiz da 1ª Vara.
JS - Então, manda ver o processo aí.
FS - Já mandei. Já chamei o Marcelo, já
mandei ver.
JS - Porque o menino me disse que já mandou pro Marcelo
tudo, pra o Marcelo olhar o processo...
FS - Já, já mandou e já viu tudo.
JS - E o que é que tem. É (???)
FS - É, isso é em off. Mas eu agora mandei ver
o documento formal pra que eu possa entrar na internet e ver do que
se trata (...) Foi em off, foi hoje de manhã que chegou a informação,
e eu tô agora concluindo ela...
JS - Mas o menino me disse ontem...
FS - Ah, já vi o processo todo. Eu chamei ele hoje de
manhã e ele me contou tudo...
JS - E não é esse o processo que está
lá?
FS - Não, tem algumas coisas lá, algumas quebras
de sigilo adicionais que não têm informações
suficientes.
JS - Tá bom.
FS - Eu mandei averiguar.
JS - Tá.
FS - Olha, esse negócio aí que tu falastes antes
[assunto do Aderson Lago], é isso aí, eu tô fazendo
isso, tá bom?
JS - Tá Bom. OK. Um abraço.
FS - Tá. Beijo.
(A conversa entre José Sarney e o filho Fernando pode ser
ouvida no You Tube (www. youtube.com.br, buscar “pedido sarneysista”)