O guardião
da princesa loura
A praia do Atalaia fica à direita da cidade de Salinas, na costa
do Atlântico, Pará. É um lugar de uma beleza indescritível
que mantém até hoje, apesar da explosão imobiliária.
Em 1954 tudo era mais bonito, tranqüilo e ...misterioso.
Ainda não existia a ponte e o acesso era possivel em pequenas
embarcações que saíam do Portinho, e alcançavam
o outro lado em trinta ou quarenta minutos. Como pouca gente visitava
Salinas, a paz "do Atalaia" como se falava na época
era pouco perturbada. Ali viviam grupos de pescadores que conheciam
os segredos do mar, e os mistérios da terra. No centro do lugar
que parecia uma ilha, havia um poço de água doce, limpa
e de um sabor muito especial. Os nativos chamavam o lugar de "Poço
da Princesa", e alertavam os visitantes para que nunca, mas nunca
mesmo se aproximassem do local no momento do sol à pino. As pessoas
ficavam com medo e respeitavam as recomendações.
Segundo os habitantes do Atalaia, em alguns dias não especificados,
quem chegava à certa distância do "Poço da
Princesa", ouvia um canto de beleza sem par, e se decidisse subir
ao pico da próxima duna veria uma mulher lindíssima, loura
e pele clara. A voz que se ouvia era dela, e se o intruso não
voltasse acabava se perdendo no encanto da mulher, encantada no poço
e protegida por um guardião que andava pela ilha deixando enormes
marcas de pés pelo chão. Um dia um grupo de jovens se
encontrava mais ou menos nas proximidades do "Poço da Princesa",
um pouco antes do meio dia. Ninguém se lembrava do que os pescadores
haviam falado na noite anterior. Em certo momento um dos garotos apontou
para a frente e mostrou o que parecia ser a marca de um pé direito,
enorme, que começava na base e chegava ao topo da elevação.
A curiosidade foi maior que o medo, e todos foram até lá
observar de perto a marca. Dava mesmo a impressão de um pé
e alguns ficaram com medo, outros não. De repente alguém
sugeriu que, se "tem uma marca de pé direito aqui, a do
esquerdo deve estar lá na frente". Falou e subiu a duna
seguido pelos demais. O espanto tomou conta de todos: na próxima
duna havia uma marca de um um outro pé enorme, o esquerdo, como
se completando uma passada de alguém que poderia ser o gigante
guardião da princesa. O grupo voltou em disparada, e ninguém
conseguiu explicar se aquilo era algo produzido pelo vento, ou se existia
mesmo um gigante vivendo naquele lugar.