A
reforma do elevador do hospital.
O governador do Amapá era general, e dos mais ranhetas. Em plena
ditadura, final dos anos 60 início dos 70, tinha poderes quase
totais e não abria mão de mandar. E como mandava.
Ivanhoé
Martins detestava cabeludos os cabelos longos estavam na moda entre
os homens -, mas era o vermelho que o tirava do sério. O governador/general
tinha verdadeiros ataques quando via alguém usando uma roupa vermelha.
Em plena ditadura isso era até compreensível.
Mas
apesar desses e outros inconvenientes, Ivanhoé gostava de coisas
simples, poéticas e bonitas, como por exemplo uma bandinha de musica
tocando dobrados americanos durante a inauguração da reforma
do elevador de um hospital. Isso mesmo: reforma de elevador de hospital
era "inaugurada" com banda de música, como aconteceu
com a do Hospital Geral de Macapá
Um
dia, depois de dois ou três meses parado, finalmente o elevador
do hospital a inauguração da reforma..
Segunda
feira de sol forte, 9 horas da manhã com um calor de verão
variando entre 30 e 35 graus, todo mundo presente. Quer dizer, todo mundo
do primeiro escalão da administração, e os homens
de paletó e gravata, porque o governador não admitia uma
inauguração sem que todos estivessem impecavelmente vestidos.
E como não podia deixar de ser, a bandinha da Guarda Territorial
o Amapá ainda era Território Federal estava
lá.
O
governador chegou rigorosamente na hora marcada, e como sempre, fez um
longo discurso sobre a importância da reforma do elevador, desatou
a fita verde amarela e deu a cerimônia como encerrada. E foi aí
que aconteceu o inesperado.
Exatamente
no momento em que o grupo se afastava da porta do elevador ainda aberta,
dois maqueiros passavam transportando um paciente na direção
da escada que leva ao primeiro andar. Os maqueiros viram a porta do elevador
aberta, com luz acesa, e imaginando que voltara a funcionar, pararam,
deram uma ré e um deles perguntou ao governador se o elevador já
podia ser usado.
-
Quando o elevador estava parado por onde vocês subiam? perguntou
o general.
-
Pela escada, respondeu o maqueiro.
Então
continuem subindo pela escada, determinou Ivanhoé, concluindo irritado
": que diabo! Nem bem se inaugura uma coisa e essa gente já
quer usar. Resmungando o general foi até o elevador, fechou a porta
e meteu a chave no bolso do paletó. Só três dias depois,
com muita insistência o diretor do hospital conseguiu que o general
devolvesse a chave. Então o elevador voltou a funcionar.
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