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O
prefeito e o "Banco da Amizade".
Negro e pobre,
o simpático professor de inglês tinha se transformado em uma
grande liderança política da oposição, e uma esperança
popular na eleição para a Prefeitura de Macapá, a primeira
da história do ainda Território Federal do Amapá, em
1995. E não deu outra: o professor, assumindo um compromisso de trabalho
e moralidade, no momento em que um verdadeiro mar de lama se derramava sobre
o governo territorial, recebeu a maior votação dada a um político
local e se transformou no primeiro prefeito eleito dentro do Território.
Amigo pessoal de Ullysses Guimarães, um dos líderes da resistência
contra a ditadura militar, o professor recebeu dele homenagem pública
durante um grande comício na praça Lélio Silva, no Laguinho.,
bem em frente da Escola Azevedo Costa outro que não era o então
candidato, apesar do mesmo nome que tem ma calçada lateral o
tradicional Banco da Amizade, um pequeno banco debaixo de uma árvore,
onde a rapaziada do bairro quase toda formada por negros, costuma reunir para
conversar, beber, falar mal da vida de todo mundo, inclusive deles próprios.
Ninguém escapa. Essa rapaziada tinha se engajado na campanha do candidato,
não só pela negritude, mas principalmente por causa da história
de lutas que vinha marcando sua vida pública.
Alguns meses
depois da posse do prefeito, a molecada do banco andava irritada com o "parente"
ilustre, por conta do que vinha acontecendo. Naquela altura, na frente da
residência oficial já se podia ver estacionados um reluzente
Mustang e uma super-motocicleta CB 450, claros sinais exteriores de uma riqueza
que nem o prefeito nem seus filhos possuíam, e que não dava
para comprar com os salários que recebiam legalmente. O prefeito tentativa
explicar dizendo que as máquinas eram propriedades de amigos que as
tinham "emprestado" para seus filhos. Ninguém acreditou,
muito menos o pessoal do Banco", que se sentiu traído pelo
prefeito. E a moçada decidiu se vingar.
A vingança
singela veio na forma quase que de um alerta, como se as pessoas estivessem
dizendo: "olha, nós te elegemos mas não estamos gostando
do que você vem fazendo". E foi feito assim.
Um dia qualquer
a bela residência oficial do alcaíde na avenida FAB, a principal
da cidade. amanheceu com uma frase pintada no muro;
"AQUI
SÓ MORA PRETO".
Cedinho alguém
avisou o prefeito do que estava acontecendo. Os funcionários da residência
se preparavam para limpar o muro, mas ele não deixou. No dia seguinte
pela manhã, as pessoas se surpreenderam: uma vírgula e duas
palavras foram acrescentadas à frase inicial que ficou assim:
"AQUI
SÓ MORA PRETO, MAS RICO".
A resposta do
prefeito permaneceu ali por dois ou três dias, desafiadora, prepotente,
intocável, até que a vigilância descuidou. Na manhã
do quarto dia, mais uma virgula e duas palavras foram acrescentadas e a frase
ficou assim:
"AQUI
SÓ MORA PRETO, MAS RICO, MAS PRETO".
No final da tarde
do dia seguinte, alguém mandou limpar todo o muro, e o assunto parou
por aí. Tem gente que jura que os autores da empreitada foram os rapazes
do Banco da Amizade. Eles juram que não. Em tempo; todos os envolvidos
nesta história são negros.
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