Um
prefeito 24 horas no ar.
Antonio Corrêa Neto
Em 1992, o já decadente grupo político do então
governador Annibal Barcellos, PFL, fazia uma das últimas
tentativas de sobrevivência apostando tudo na candidatura
do engenheiro Murilo Pinheiro, também do PFL, para a Prefeitura
de Macapá. O raciocínio era simples: com o Governo
do Estado e a prefeitura da capital nas mãos, o grupo teria
um tempo maior para quem sabe até corrigir parte das enormes
trapalhadas que aprontando desde muito tempo, por incrível
que pareça com grande apoio popular.
Mas em 1988 João Capiberibe foi eleito prefeito de Macapá
e em 1989 começou um trabalho de resgate da dignidade da
administração pública, mostrando à
população que existia uma forma de governar muito
melhor que aquilo demonstrado pelo governo estadual. Em 1992,
com apoio de Capiberibe, do senador José Sarney e de outros
segmentos políticos contrários aos Barcellos, o
médico João Bosco Papaléo Paes foi lançado
candidato à Prefeitura de Macapá.
A campanha foi dura porque se enfrentava a máquina do governo,
usada sem qualquer constrangimento e sob as vistas complacentes
da Justiça Eleitoral.
Sarney e seus amigos iam e vinham, oferecendo apoio inclusive
material e dando sugestões para a produção
dos programas de televisão, que queiram ou não,
sempre tiveram muita importância nas decisões dos
pleitos eleitorais.
Numa dessas visitas, quando se imaginava que Papaléo e
Murilo estivessem praticamente empatados nas pesquisas de intenção
de votos, um desses coronéis dos barrancos do interior
maranhense chegou a sugerir que Papaléo sofresse um "atentado
à bala", para criar um fato político e atrair
o apoio popular. Seria armada uma farsa, para que Papaléo
levasse um tiro na perna o que evidentemente ninguém aceitou,
e a conversa acabou morrendo ali mesmo. Mas um outro amigo de
Sarney, de nome Alexandre e que tinha sido prefeito de uma das
mais importantes cidades do interior do Maranhão, provavelmente
Caxias, decidiu dar uma contribuição para uma futura
administração de Papaléo. Ele contou que
quando prefeito resolveu criar no povo a imagem de um administrador
que trabalhava 24 horas por dia, e fez o seguinte: durante muitas
noites e madrugadas do ano ele contratava caçambas, que
mandava encher de pedras e circular pelos bairros da cidade. Como
nas cidades do interior as pessoas se recolhem mais cedo, o velho
político imaginava o seguinte: "eles já estão
deitados para dormir. Ouvindo as caçambas passando fazendo
um barulho infernal o que é que elas vão pensar"?
E ele mesmo concluía: "claro, vão imaginar
que têm um prefeito que não dorme e trabalha 24 horas
por dia". É possível que no Maranhão
as pessoas acreditassem nisso, não fosse assim os Sarney
e seus aliados não dominariam a política maranhense
desde o início dos anos sessenta.
Aqui Papaléo foi prefeito, um bom prefeito por sinal, e
nunca precisou mandar caçambas cheias de pedra circular
pelas ruas da cidade durante as madrugadas, para fazer o povo
criar a imagem de um prefeito que trabalhava 24 horas por dia.
Macapá
20/04/02