AS LIÇÕES DE SARKOZY
João Silva
Com a devida atenção, acompanhei matéria veiculada
pelo “Globo News” sobre a Guiana Francesa, a situação
na fronteira com o Brasil e duro combate á presença
de brasileiros ilegais naquele Departamento Ultra Marinho da França
na América do Sul.
A matéria ficou redonda, bem feita, respondeu a todas as perguntas
ou inquietações por parte de quem desejasse saber o
que se passa nos setecentos quilômetros da fronteira que separam
o Amapá da Guiana Francesa.
Ficou bem claro, sem qualquer julgamento de natureza política
(jornalismo sério não faz isso), que a França
não vai transigir no combate aos clandestinos, na defesa do
meio-ambiente prejudicado pela intensa atividade garimpeira em território
francês.
Sobre essa questão, em particular, lembro que Nicolas Sarkozy
fora especialmente enfático quando ali esteve para encontro
com o Presidente Lula. Ele disse que brasileiros ilegais não
poderiam permanecer na Guiana e que a lei continuaria sendo aplicada
com rigor.
A manifestação foi uma resposta á autoridades
do Amapá - deputados estaduais ligados à Comissão
de Direitos Humanos da AL, que foram a Saeint George reclamar do tratamento
dado á brasileiros deportados para o Brasil, alegando maus
tratos e desrespeito aos direitos humanos.
Os franceses foram categóricos: não só mostraram
a destruição produzida pela atividade garimpeira nos
rios e igarapés da Guiana, compreendendo grande extensão
de áreas degradadas por brasileiros ilegais; eles mostraram
também como combatem os ilegais que entram ou tentam entrar
na Guiana Francesa e como são mandados de volta para o Brasil,
sem qualquer agressão aos direitos humanos.
Nesse particular, considerando as imagens da devastação
mostradas ao mundo, reafirma-se na sua própria convicção
decisão do Governo Francês de impor o fim de linha para
a corrida do ouro em território da Guiana, com sua história
de crimes ambientais que marcam também a atividade garimpeira
em solo brasileiro, mas por aqui relevada, como sempre.
É uma situação complicada. O Brasil, como mostrou
a matéria, não gera empregos nem expectativas capazes
de atender milhares de brasileiros, que tentam entrar na Guiana Francesa,
fascinados pelo sonho de Caiena, em busca de melhores dias, muitos
deixando a família, sem mensurar riscos da clandestinidade
em um país em que é forte a cultura do respeito e a
da aplicação da lei.
O cenário é antigo na fronteira: enquanto do outro
lado do rio, o povo da Guiana, incluindo brasileiros que vivem ali
legalmente, goza de situação estável, tem moradia
decente, padrão europeu e a RMI - Renda Mínima
de Inserção, do lado de cá pouca coisa funciona
a contento em termos de transporte, abastecimento de água,
estrada, segurança, educação, saúde e
energia elétrica que pode deixar população até
por mais de 10 dias na escuridão, como aconteceu dias antes
do encontro presidencial.
Ás dificuldades de cá, entretanto, não reduzem
otimismo quanto á construção da ponte que vai
unir o Brasil á Guiana Francesa, um filme que já vi
várias vezes; do lado de lá, entretanto, vejo com desconfiança
a figura conservadora do mandatário francês, cuja política
para estrangeiros é excludente, uma das mais austeras do mundo
em tempo de globalização.
Certo é que a ponte da amizade vai exigir dos dois paises
acordos que contemplem os interesses econômicos, comerciais,
sociais e culturais dos dois povos. Isso vai depender do governo,
da classe política, do empresariado, do Amapá Produtivo,
se aquilo não foi apenas uma peça de publicidade que
“reinou” quatro anos na televisão do Amapá.
Povo amapaense, que é a razão de tudo, deve ficar atento
ao que vem por ai.
E o que vem por ai não pode conviver com a insensibilidade
histórica do governo estadual, do governo municipal, e a presença
precária do Estado Brasileiro numa região estratégica,
como reconhece o próprio Itamaraty, provocado sobre a prisão
de brasileiros na Guiana, abandono da população de Oiapoque,
e a criminalidade na fronteira.
Oiapoque precisa de investimentos do Governo Federal, no que se inclui
a conclusão da Br-156 - atrasada 20 anos; vamos precisar do
incremento do comércio, da indústria, da produção
de alimentos, da Zona Franca; no mais, a capital do Estado reclama
obras de infra-estrutura que a prepare para atrair turistas, euros
e dólares que a Guiana e o Caribe podem injetar na economia
do Amapá.