CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO TRE
João Silva
Vamos falar francamente: normal o quê, meritíssimo?
Normal é sem anormalidade, segundo Aurélio, sem acidentes
de percurso, sem traumas, sem desvios, no caso da eleição
sem desrespeito à lei. No dia do pleito, dez horas da manhã,
um locutor da rádio Antena-1 disse que o juiz eleitoral não
recomendava votar em Camilo Capiberibe.
E houve mais desrespeito à lei, houve deputado federal querendo
corromper eleitor da oposição à luz do dia, bem
diante de pessoas esclarecidas; houve perto de seiscentas representações,
quase uma dezena de ações feitas por advogados da coligação
do PSB/PSOL/PMN que não foram levadas em conta.
Jovens idealistas, pessoas que querem construir um país melhor,
advogados da chapa de oposição perderam a esperança,
magistrado, quando os juizes João Lages e Romel Araújo,
estarrecidos, impotentes diante do que acontecia, confessaram humildemente
nunca terem visto tanta disposição para fraudar uma
eleição, desde que chegaram ao Amapá.
Foi um arrastão sem precedentes com a participação
de rica fauna: gente dos três poderes, bajuladores, mulher de
bajulador, professor, deputados federais, deputados estaduais, empresários,
gestores da CEA, da CAESA, policiais sem farda, estes dando cobertura
à compra de voto nas baixadas.
Como em 21 dias, um candidato com discurso ruim, mídia ruim,
propostas absurdas, derrotado no primeiro turno por uma diferença
de mais de 10 mil votos, não só tenha buscado essa diferença,
mas construído uma vitória considerada improvável
diante do seu adversário? Claro que isso não é
um milagre, mas uma fraude monumental. Camilo caiu no meio do povaréu
das baixadas, sintomaticamente.
Conto uma historinha que se deu no início do segundo turno:
prócer do PC do B manda mensagem para o celular de um amigo,
bem ao meu lado, e faz o comunicado: “Tadeu, fica calmo, porque
nós vamos ganhar essa eleição nas baixadas; o
povo pobre é como gado, a gente compra”. E assim se fez,
com dinheiro do Governo, da Al, da PMM, da Câmara Municipal,
com os orçamentos da CEA, da CAESA e o rico dinheiro do empresariado
que não quer pagar impostos.
Não sei se o meritíssimo acompanha o noticiário
das emissoras de rádio do Amapá, não sei se sabe
quem são os donos, como funcionam; se passa a vista nos 21
jornais subsidiados pelo Governo, se acompanha o trabalho das emissoras
de televisão em mãos de políticos, não
sei se pôde enxergar anormalidade, algum crime eleitoral, alguma
calúnia, alguma desinformação, alguma armação
contra o candidato do PSB.
No primeiro turno, não sei se ilustre magistrado soube que
emissoras e jornais de empresários e aliados do Governo contrataram
e divulgaram pesquisas sem qualquer base científica e jurídica,
portanto pesquisas criminosas, com objetivo de fabricar resultados
a favor dos seus candidatos e dos seus interesses; isso não
é normal. Anormal é a impunidade, é a certeza
de que está tudo dominado.
Nesta cidade de muros baixos, um grupo de empresários, velhos
sonegadores de impostos, coagiu abertamente os empregados, fez pressão
sobre resultado da eleição. Essa gente se dá
bem com governos que não cobram os impostos devidos, e se revelam
abertos a certo tipo de relação em que uma mão
lava a outra, e quem sai perdendo é o povo, porque o Estado
deixa de arrecadar o que precisa para fazer investimentos, para melhorar
a cidade e a vida do cidadão.
Como magistrado, responsável pela condução do
processo eleitoral em nosso Estado, ilustre presidente do TRE não
pode comportar-se como se a oposição não existisse;
a oposição, que fez uma campanha limpa, não comprou
votos, exige tratamento igual e respeitoso, porque o Amapá
não pertence aos que governam, mas a todos os cidadãos
que acreditam nesta terra e no seu destino, até porque não
existe democracia sem contrários.
Novos ricos, pessoas bem situadas nas estruturas de poder não
são donas do Amapá, não podem celebrar acordo
para se apossar do Estado através de eleições
fraudulentas, não podem sair por ai comprando a consciência
de pobres e necessitados; meia dúzia de pessoas ricas não
pode possuir o povo na marra, como se viu nos bolsões de pobreza
em que se constituem nossas baixadas, cenário em que a força
do poder adquiriu o mandato de Roberto Góes, não tenho
menor dúvida.
Não existe eleição perfeita, meritíssimo,
quanto mais a que se viu neste Estado há poucos dias! O povo
civilizado do Amapá, pessoas esclarecidas, que são pela
legalidade, pela legitimidade das eleições, exigem que
ilustre magistrado faça um balanço das ocorrências,
das tentativas de fraudes, das comprovadas ou não, de quantas
denuncias foram feitas pelas coligações; quantos processos
foram abertos, contra quem e quando serão julgados pelo pleno
do Tribunal Regional Eleitoral do Amapá.
João Silva - 62 anos, jornalista amapaense.