NOTÍCIAS RUINS
João Silva
Vistos pelos outros, lá de fora, ficamos sabendo sobre nós
mesmos! “Nós mesmos uma pitomba”, diria tia Miquilina,
lá de Pedra Branca, considerando que grande parte dos escândalos
que comprometem a imagem do Estado não é protagonizada
por pessoas simples do povo, mas por gente graúda que descobriu
o Amapá em busca de oportunidade. Mas pegar mesmo, só
pega com a raia miúda.
Notícias ruins, aliás, que só chegam ao conhecimento
da população amapaense através de revistas de
circulação nacional, das grandes redes de televisão,
por meio da Internet ou de uma operação da Polícia
Federal, até porque não é qualquer notícia
que pode circular na imprensa tucuju.
As atividades do senhor Eik Batista, as mazelas que permearam a venda
da estrada de ferro, as denúncias do TCU em relação
às obras do aeroporto de Macapá, o contrabando de ouro,
e a generosa doação da MMX à eleição
de Waldez Góes chegaram ao conhecimento público através
do noticiário produzido fora do Estado.
E continua aquela coisa condenável de gente que se aproveita
do Amapá e da boa fé dos amapaenses, gente que não
seria nada em outro lugar, e que vive aqui por falta de alternativa,
mas que na verdade não gosta do chão que o acolhe; pessoas
bem articuladas, que sabem como se resguardar em sua redoma.
Um desembargador, um filho problemático, um bom salário
que poderia ser pago a um amapaense preparado para o cargo, viraram
notícia no sul do País por via de uma desavença
familiar que chamou atenção da polícia e da imprensa
do Paraná. Foi como a notícia chegou aqui, apesar de
contestada por fontes do Judiciário.
Não fosse por esse capricho, filho do Presidente do Tribunal
de Justiça do Amapá, provavelmente ainda estivesse percebendo
gordo salário de assessor do Tjap sem precisar arredar pé
do sul-maravilha ou precisar mover uma palha em prol do Judiciário
local e da sociedade amapaense.
E o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) sensibilizado com o caso
das crianças da Santa Casa de Misericórdia, apontando
o dedo para a negligência do Governo do Pará? Foi a Belém
para avaliar o quadro como médico e membro da Mesa do Senado,
tudo bem, mas ao que me consta não veio chorar com a gente
a dor das famílias amapaenses cujos filhos perderam a vida
no Hospital da Criança, em 2006, por conta de um sistema de
saúde caótico, e que continua caótico, ele sabe
disso.
No Senado e na Câmara Federal, ninguém repercutiu o
drama da família da menor que esfaqueou até a morte
quatro irmãos na ausência do pai e da mãe que
haviam saído para trabalhar. Não tenho dúvida
de que todos são vítimas: os pais e a filha que sujou
as mãos com o sangue do seu sangue naquele cenário de
miséria que precisa da atenção das autoridades
constituídas do Amapá.
Aí o G1, que não tem nada ver com isso, nos manda mais
notícia sobre o Amapá, desnudando o que a gente mesmo
poderia ter desnudado, se a nossa imprensa não tivesse renunciado
ao dever da crítica e da investigação; informa
que a remuneração do Prefeito de Macapá é
a sexta mais robusta entre prefeitos das capitais de estado, e a segunda
maior entre os da Região Norte, próximo de 16 mil reais.
Estando tudo bem, o prefeito ganhando bem, os vereadores ganhando
bem, deputados federais, governo aquela maravilha da publicidade oficial,
o diabo a quatro unido sob liderança de Sarney, a quem já
demos três mandatos de senador sem os quais não teria
dois de Presidente do Senado Federal, por que então vem a Federação
da Indústria do Rio de Janeiro e nos taca carimbo de capital
menos desenvolvida do País?!
Pra completar quadra de notícias ruins, Giovanni Borges (PMDB-AP),
candidato à Prefeitura de Santana, sobe a tribuna do Senado
Federal para defender a pirataria, sem avaliar que essa atividade
ilegal causa um rombo na economia do Brasil de 20 bilhões de
dólares, no que se inclui a indústria fonográfica,
uma das mais atingidas pelos falsificadores de Cds e DVDs. Claro que
isso é ruim para a imagem do Amapá.
----------------------
COMENTANDO
----------------------
Infelicidade é pouco; o Amapá estrebucha diante da irresponsabilidade
com aquilo que se diz nos meios de comunicação; ou você
não viu aquele formador de opinião com história
de violência no trânsito ensinando no rádio como
burlar a Lei Seca? O Ministério Público deveria descruzar
os braços e chamar o pinguço pra uma conversa de pé
de ouvido.
==
Alternância é um dos charmes da democracia representativa,
e faz bem; é o que está acontecendo a Confraria Tucuju,
respirando novos ares; presidente Telma Terezinha abriu a sede do
Largo dos Inocentes para sangue novo de alguns colaboradores de qualidade,
e a coisa está indo bem. É só continuar juntando
forças.
==
O eleitor deveria desconfiar de candidatos a cargos eletivos que fogem
do debate como o diabo da cruz; o debate poderia ser obrigatório,
garantido por lei, pelo menos uma vez a cada nova eleição
não seria nada de mais. Organizado pela própria Justiça
Eleitoral.
==
Empresário do ramo de sorveteria, Carlos Ferreira deu show
de bom gosto na reforma do endereço de um dos melhores sorvetes
da cidade, na Rua São José, no Centro, que passa a chamar-se
“Q SABOR”; o trecho, que já tem moderno hotel com
lojas no térreo, vai ganhar um shopping antes do final do ano;
são investimentos que vão levantando o teto e transformando
a cara de Macapá.
==
Repercutiu bem nomeação do poeta Ricardo Pontes, que
acaba de assumir a gerência da Biblioteca Pública “Elcir
Lacerda”; substitui uma paulista e a mexida, em boa hora, foi
uma bênção para esta cidade precisando de carinho
e atenção; pelos menos nos identifica, conhece nossa
história, sabe quem somos. Estou apostando na sensibilidade
do Ricardo Pontes.