BOM JESUS DE ITABAPOANA NELES!
João Silva
O lugar atende pelo nome de Bom Jesus de Itabapoana, cidadezinha
do interior do Rio de Janeiro, longe do mar de Copacabana, da badalação
da praia de Iapanema e das mulheres que encantaram Vinicius.
Com atraso que se explica, já que a mídia no Brasil
conspira contra o povo, só agora chega lá de Bom Jesus
de Itabapoana a melhor notícia produzida pelas eleições
municipais deste ano, mas nem por isso divulgada na grande imprensa,
incluindo a TV Globo e o badalado Jornal Nacional.
A novidade é que havia, em Bom Jesus de Itabapoana, apenas
um candidato a prefeito e o cara tinha uma folha corrida daquelas!
Foi aí que uma população indignada resolveu dá
uma lição no candidato safado, na classe política
e em todos nós também, eleitores de centros mais adiantados,
digamos.
26.864 eleitores de Bom Jesus foram às urnas, sim, senhor,
e cumpriram muito bem seu dever cívico; 20.821 desses cidadãos
acima de qualquer suspeita, decididos a virar o jogo em favor do lugar
em que moram, simplesmente anularam seus votos e forçaram a
Justiça Eleitoral a marcar uma nova eleição.
Os votos nulos chegaram a 89,23% dos sufrágios apurados no
dia do pleito, e o candidato ficha suja não vai poder concorrer
a uma nova eleição. Claro que o exemplo da população
humilde de Bom Jesus de Itabapoana não interessa aos donos
da grande mídia, gente que estimula o ópio do futebol,
gente que gosta de ver o povo submisso e ignorante.
Não estudei na universidade de Harvard, não sou cientista
político, não tenho mestrado em sociologia nem me formei
em jornalismo; tenho o ginasial e um pouquinho mais da metade do científico
tirados no Colégio Amapaense de lendários mestres, como
José Benevides, Antônio Munhoz Lopes, Raimundo Lobo,
mas eu sei que, sem exemplos como o de Bom Jesus de Itabapoana, o
Brasil não irá lugar nenhum.
Um país sólido cultural e socialmente não se
ergue só com a pujança da sua economia, da sua infra-estrutura,
pelo trabalho da sua população ou pela força
do seu futebol cinco vezes campeão do mundo, como é
o caso do Brasil; não se faz um país justo com políticos
desonestos, sem qualquer preocupação com o povo mitigando
sua esperança em relação ao futuro.
Na medida do possível, temos que copiar Bom Jesus de Itabapoana,
que se fez respeitar fazendo sua parte, mostrando como uma população
pode se organizar contra a política pequena, contra partidos
de aluguel, contra indivíduos de passado abominável,
como tantos que disputam eleição em nosso País,
e se elegem por causa do conformismo das pessoas que deveriam reagir
contra isso.
Não creio que fazer a revolução do povo de Bom
Jesus de Itabapoana demande tanta complicação, exija
do povo certo grau de escolaridade; claro que o povo tem que estudar,
claro que o País tem que investir no esclarecimento da população,
claro que nenhum brasileiro deveria ser analfabeto, mas mandar político
safado pra casa não precisa nada disso: basta ter vergonha
na cara, recusar o dinheiro fácil dos políticos desonestos.
A crise do Brasil é moral, envolve gente graúda dos
três poderes da República, para lembrar caso dos desembargadores
do Espírito Santo; vejam também entrevero envolvendo
o ministro da saúde, José Gomes Temporão e os
caciques do PMDB! O ministro disse uma verdade, segunda qual a FUNASA
é um reduto de incompetência e roubalheira (Amapá
foi citado); o presidente Lula interveio, orientando o ministro a
pedir desculpas aos peemedebistas - José Sarney, Michel Temer,
Jader Barbalho e companhia, em nome de quem estão loteados
os cargos existentes naquela fundação.
Jovem ministro não só pediu desculpas, mas engoliu
a critica e o sapo sem fazer cara feia; portanto segue a ladainha,
com a bênção da maior autoridade do País
que se coloca contra os interesses da sociedade, incluindo a saúde
da população indígena e a melhoria das condições
sanitárias das cidades brasileiras, dependendo das ações
pouco eficientes da FUNASA, que vai continuar corrupta e incompetente
porque o poder executivo não pode contrariar os coronéis
do PMDB...Bom Jesus de Itabapoana neles, minha gente!
João Silva - 62 anos, jornalista amapaense.