O segredo das amazonas
João Preto, do alto de 85 anos jura de mãos postas que elas
existem. E diz que já esteve com elas, sugerindo que trouxe de lá
algo muito importante. João mora em uma cabana, longe da chamada
civilização, à beira de um pequeno rio do norte do
Amapá. Na casa a mulher quase tão velha quanto ele, dois filhos
que permaneceram por lá e um monte de netos de todas as idades.
À noite, ao lado da fogueira que fica sempre acesa para assustar
as onças e os, mosquitos ele conta o que diz ter vivido, e não
admite uma sombra de dúvida sobre o que está falando.
O velho João afirma que as amazonas ainda vivem no meio da floresta,
do outro lado do grande rio, num lugar onde a terra baixa sobe formando
montanhas, lá no meio do nada elas têm seu lugar. São
mulheres fortes que não admitem homens em seu convívio. Mas
existem crianças, meninas, entre elas,e como isso parece um mistério,
João explica: só as virgens entre 20 e 25 anos disputam a
liderança da tribo. Isso acontece à cada cinco anos durante
os dias de Lua cheia do mês de abril.
A líder das amazonas comanda tudo, inclusive as cerimônias
religiosas e as festas que marcam a disputa pelo poder. É nessa época
que fazem o mais maravilhoso e misterioso dos amuletos, o muiraquitã,
que nenhum índio consegue fazer igual.
Em uma das noite de Lua cheia do mês de abril no ano das mudanças,
as amazonas se reúnem em uma lagoa secreta. As virgens mergulham
nas águas da lagoa e do fundo retiram um barro misturado com limo,
que e modelado durante a noite e debaixo d'água, para que a luz da
Lua não endureça a massa. Desse barro fazem figuras de animais
da floresta. O mais comum é a rã, símbolo da fertilidade
para as amazonas. Os amuletos, que tem poderes mágicos, são
furados para que mais tarde possam ser penduados nos pescoços das
índias.
Na noite do muiraquitã as amazonas recebem a visita de índios
que moram em aldeias mais ou menos próximas da lagoa secreta. Eles
chegam vendados para que não conheçam o caminho, e passam
uma noite de amor com as virgens da tribo. No dia seguinte os índios
vão embora, mas fica registrado com qual amazona cada um deles ficou.
Nove meses depois as crianças nascem, os índios que se tornaram
pais de meninas recebem o muiraquitã, que lhes é entregue
na sua aldeia, mas as meninas ficam com suas mães, pelas quais são
educadas. Os pais de meninos não recebem o amuleto, mas ficam com
os filhos porque na aldeia das amazonas não é admitida a permanência
de homens. E onde o velho João entra nisso?
Ah, sim. João garante que há muitos anos, quando era bem jovem
e morava perto do lugar das amazonas, uma noite de luar foi levado por elas
para a beira de uma lagoa. Cantou, dançou e amou uma bela índia
que lhe fora entregue pela líder das mulheres guerreiras. Na manhã
seguinte foi levado embora do jeito que havia chegado. Nove meses depois
um menino foi deixado no lugar onde morava. As amazonas chegaram montadas
em cavalos sem selas, foram exatamente ao lugar onde estava, e sem qualquer
explicação entregaram a criança. João tem certeza
de que seu filho mais velho é também o filho de uma amazona.